De cunhos atados

Cunhos-atados-boatshopping

Pode parecer bobagem, mas não é. O cabo certo para cada aplicação dentro de uma embarcação, seja em um veleiro ou em uma lancha, é de fundamental importância para que se consiga desempenho e durabilidade do cabo aliada à segurança do barco. “Conhecer um pouco mais sobre eles é decisivo para decidir pelo conjunto correto para seu barco”, explica André Vasconcellos, diretor da CSL Marinharia e representante náutico da Cordoaria São Leopoldo, com 85 anos de tradição e expertise na fabricação de cabos de fibras. O termo “conjunto” é também fundamental, uma vez que é preciso ter a bordo diversos tipos de cabo para usos específicos. Então, vamos definir, de forma resumida, os cabos e suas aplicações.

Amarra principal ou cabo da âncora

Muitas embarcações usam apenas a corrente para amarrar a âncora, principalmente as de maior porte, mas existem atualmente no mercado os cabos mistos, que têm um trecho de corrente emendado a um cabo de fibra sintética. A vantagem da amarração mista é que, além da enorme redução de peso na proa do barco, o cabo fornece elasticidade à linha de ancoragem, reduzindo o esforço de tração sobre ela e sobre os cunhos do barco. Em mares revoltos, isso se torna mais eficaz ainda, pois evita os trancos e uma possível escapada da âncora. Mas nunca se deve usar um cabo totalmente sintético para amarrar a âncora. Usar um trecho de corrente junto ao “ferro” é de fundamental importância para ajudá-lo a unhar o solo marinho e evitar o contato abrasivo do cabo com o fundo, rochas e areia.

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O cabo indicado para ancoragem é composto de fibra de poliamida (mais conhecido como nylon). Ele tem um alto alongamento (absorvendo os trancos), não flutua e tem excelente resistência à tração e às intempéries, justificando sua fama de cabo seguro e durável. É aconselhável a construção torcida de três pernas para barcos pequenos e médios e trançada de oito pernas tipo naval para as embarcações acima de 40/45 pés.

Amarra de popa ou cabo de âncora auxiliar

É um cabo curto (30 m na maioria dos casos já resolve), torcido de três pernas de poliamida (nylon), sem corrente, conectado diretamente à âncora. Sua função principal é fazer o fundeio sem rotação, que, em conjunto com a amarra principal, deixa o barco fixo sem girar, ou em ancoragens rápidas em pouca profundidade e perto de praias, evitando usar a amarra principal.

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O cabo usado tanto na amarra principal quanto na auxiliar deve, obrigatoriamente, afundar. As outras características seriam a elevada resistência à tração, alongamento alto, facilidade de manuseio e adaptação à utilização em guinchos.

São indicados os cabos de poliamida (nylon) ou poliéster alta tenacidade, torcidos de três pernas e trançados de oito pernas.

Cabo solteiro

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É um cabo sem aplicação específica a bordo e de uso eventual. É recomendado que seja flutuante (polipropileno) e tenha um comprimento grande (pelo menos 40/50 metros). Sua função é de uso auxiliar, como um resgate, reboque de outra embarcação, uma amarração em ponto distante ou qualquer outra eventualidade. Por isso, é ideal que ele tenha um bom comprimento (mínimo de 40 metros), flutue, tenha uma boa resistência à tração e muita facilidade de manuseio. É importante que esse cabo tenha um diâmetro mínimo de 12 mm para uma “boa pegada” na hora do manuseio. O cabo trançado de 16 pernas com alma ou dupla trança de polipropileno multifilado é o mais indicado por reunir todas essas características, além de ter uma boa relação custo-benefício.

Espias ou cabos de atracação

São utilizados para amarrar o barco em píeres e locais de embarque/desembarque. Usam-se os mesmos cabos da amarra principal, mas há quem prefira um cabo de bitola um número menor. Existem três tipos de espia: os lançantes, os espringues (springs) e os traveses. Veja a ilustração, abaixo, do posicionamento de cada uma.

As espias são dimensionadas de acordo com o tamanho da embarcação. Normalmente, têm uma alça feita do próprio cabo em uma extremidade, para amarração no cabeço (o poste) do cais, e a outra extremidade é livre, terminada em “chicote”, com a ponta desfiada.

Os cabos de atracação devem ter alta resistência aos raios UV e à abrasão. Podem, ou não, flutuar e devem ter uma boa elasticidade (alongamento) para absorver o “tranco” ou impacto do vai e vem do movimento do barco. É ideal que a alça para o cabeço tenha um reforço para proteger o cabo do atrito no cais, para aumentar sua durabilidade.

Os cabos de nylon, poliéster e os de polipropileno são indicados, embora os de nylon sejam mais resistentes e duráveis. Podem ser usados tanto os cabos de três pernas quanto os de oito pernas e os dupla trança.

Cabo de retinida para boias circulares

É um cabo de 8 mm x 30 m, trançado de polipropileno ou polietileno, flutuante e na cor amarela ou branca. Sua aplicação é exclusiva para o lançamento da boia salva-vidas quando temos uma situação de resgate de pessoas no mar.

Como o cabo deve estar enrolado em forma de meada junto à boia, a construção trançada com ou sem alma é mais indicada, podendo ser de polietileno ou de polipropileno.

Cabos para defensas

São cabinhos de 6 ou 8 mm, de comprimento de 1,5 a 3 metros, em nylon ou poliéster, fibras muito resistentes aos raios UV. Possuem uma alça pequena costurada em uma das pontas para dar a laçada no olhal da defensa.

Devem ter alta resistência aos raios UV e os mais indicados são de nylon ou poliéster, torcido de três pernas ou dupla trança.

Adriças e escotas

São os cabos de manuseio das velas de um barco. As adriças são os cabos que trabalham nos mastros e têm função de içamento e amarração vertical das velas/outros aparelhos e as escotas são os cabos de manuseio lateral, ajudando nos movimentos de “caçar” e “folgar” as velas.

Os cabos mais conhecidos e usados, principalmente, nas velejadas de cruzeiro e lazer são os de construção dupla trança em poliéster (capa e alma) pré-estirado. Seu custo-benefício é excelente. Já para os veleiros de competição, que exigem materiais cada vez mais eficientes, existem cabos fabricados com outras fibras de alta performance, como Dyneema/Spectra (HMPE), Kevlar/Technora, Vectran, PBO e carbono.

As principais exigências são o baixo (ou baixíssimo) alongamento, alta resistência aos raios UV, perfil circular para facilitar a movimentação por roldanas, polias e moitões, alta resistência à tração e baixa fluência (creeping = baixo alongamento sob carga constante).

O cabo ideal é o poliéster alta tenacidade, de dupla trança com tratamento de pré-estiramento. Esse cabo possui uma vida útil incrivelmente grande, porque a capa externa protege a alma do cabo das intempéries e da abrasão.

 

Mais informações: www.cslmarinharia.com.br

 

Dicas úteis por André Vasconcellos, da CSL Marinharia

Segurança

Os cabos de uma embarcação estão intimamente ligados à sua segurança. Mesmo “num porto seguro”, você deve ter certeza que seus cabos de atracação, sua amarra ou a poita que está usando estão bem dimensionados ao local e à embarcação e se estão em perfeito estado de conservação. Isso é fundamental!

Economia

Muita gente gasta muito no lazer, mas economiza na hora de comprar os cabos do seu barco. Não faça isso. Não delegue a escolha a terceiros ou autorize a compra pelo preço mais barato. O seu barco precisa de um “enxoval de cabos”, cada um dimensionado ao tamanho do seu barco, local e hábitos de navegação. Compre o pacote completo.

Cuidado ao comprar

Na hora de escolher os seus cabos, procure ser atendido por um vendedor experiente ou um consultor especializado, na loja de acessórios náuticos de sua confiança. Existem cabos no mercado, principalmente para amarras e espias, construídos a partir de fibras recicladas ou restos de plásticos e garrafas PET. Não condeno as cordas recicladas, mas, por serem feitas de materiais que já passaram por diversas transformações, suas propriedades, como tenacidade, alongamento, resistência aos raios UV, estão comprometidas. Elas têm diversas utilidades, mas não são adequadas para sua embarcação.

Ancorando sua embarcação

Use no mínimo três e no máximo sete vezes o comprimento da sua linha de ancoragem em relação à profundidade que você se encontra. Se você está em um local com “muitos vizinhos”, lance sua âncora de popa para evitar que seu barco gire com a mudança de vento/corrente e colida com outra embarcação.

Cuide bem dos seus cabos

Cuidar deles vai aumentar sensivelmente sua vida útil e será uma economia para o seu bolso. A água salgada não deteriora os cabos de fibra sintética, mas, com o tempo, o sal se entranha nas fibras ajudando a enrijecê-los, tornando-os mais “armados” e dificultando seu manuseio. Portanto, sempre que possível, lave seus cabos (inclusive os de âncora) com água doce corrente, sem utilizar jatos fortes d’água.

Evite, também, arrastá-los por superfícies ásperas, pontiagudas e quinas vivas. Proteja suas espias enquanto seu barco estiver atracado. Lonas e mangueiras podem ajudá-lo a reduzir o atrito do cabo nos cabeços e superfícies do cais. Quando fora de uso, retire qualquer torção do cabo e mantenha-o aduchado (enrolado propriamente) no paiol. Proteja seus cabos da luz solar e, quando possível, armazene-os em locais arejados.

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