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Conheça o superiate Solandge, uma obra-prima de 85 metros da Lürssen

Para definir o superiate Solandge, comece com a palavra “exuberância”. A palavra parece ter sido emprestada do francês e do latim especificamente para ele. Existem superiates bacanas, de ponta, minimalistas, estilosos, ou seja, a ambientação de cada um implica no seu rótulo. Mas cada centímetro dos 85 metros do Solandge torna claro que você está se divertindo, cada elemento remete a como aproveitar a vida ao máximo. E não é por acaso.

Segundo Richard Masters, gerente de operações do projeto, o design do Solandge passou por um longo período de maturação. “Os proprietários tinham um outro Lürssen menor que compraram usado e reformaram. Quando eles decidiram construir seu próprio iate no Lürssen, assinaram um contrato, em 2007, que estabelecia que o projeto deveria estar concluído até 2010, o que lhes deu muito tempo para refinarem suas ideias”, conta. “Eles conheceram e estudaram muitos iates nesse meio tempo, suportados por uma equipe especialmente montada para ajudar o estaleiro a viabilizar seus planos”, complementa Masters.

O Solandge é quase 20 metros mais longo e um metro mais largo que seu antecessor e oferece um camarote a mais para convidados e uma suíte VIP da largura da boca de tirar o fôlego. Mas como o engenheiro-chefe Travis Ludbrook enfatizou, “os avanços tecnológicos durante estes anos que se tornaram disponíveis para a nova construção fizeram uma tremenda diferença”.

Além de detalhes no design e da insistência em privilegiar o conforto a bordo, som e vibração foram duas questões chave na engenharia do projeto. Os níveis de decibéis foram parte das exigências do contrato, algo que Masters gosta de citar porque o estaleiro superou a exigência em 20% em alguns lugares. “Foi uma vitória, motivo de orgulho para os rapazes do estaleiro em Rendsburg”.

O Solandge é baseado em um moderno casco de 80 metros e com uma plataforma de engenharia semelhante aos superiates Phoenix 2, Ace e Quattroelle, produzidos pela Lürssen. “A equipe do estaleiro é excepcional. Se encontrarem algo que acham que é uma melhora, seja um material ou um processo, eles adotam imediatamente”, garante Masters. O desdobramento e a redução das escadas de popa, uma adaptação das utilizadas no Quattroelle, são um bom exemplo.

Por definição, todos os iates personalizados apresentam a visão do proprietário. Em um iate de mais de 60 metros de comprimento, é preciso ter cautela para não se cair em um conservadorismo repetitivo ou, pior ainda, em uma confusão que vai além do ecletismo. O Solandge é inocente em ambas as abordagens. Tanto Masters como Aileen Rodriguez, a designer de interiores, começam sua descrição do processo de criação do superiate com a frase: “O proprietário tinha uma visão”. Isso pode parecer até um eufemismo que se desfaz quando eles complementam: “Eles queriam cores brilhantes!”.

Mas talvez seja melhor começar do começo. O projetista Espen Øino foi convidado a criar um barco com um perfil baseado na experiência dos proprietários com o navio anterior. Isto incluiu que todas as suítes para convidados ficassem no deck principal, além de um enorme salão e um deck para os proprietários acima.

No entanto, durante o período de design do projeto, Øino revelou ficar claro que eles estavam dispostos a exceder os limites e explorar inovadoras formas de exteriores. Portanto, o produto final é uma mistura de formas leves e linhas fortes e agressivas; linguagens opostas, mas complementares, que geram energia. Segundo ele, as curvas estão principalmente nos planos longitudinais com as bordas duras na transversal. Na pintura exterior, a linha branca mais forte enfatiza e a listra branca mais fraca reduz visualmente os enormes contornos do iate na popa, fazendo-a não parecer um “paredão formidável” para nadadores ou para aqueles embarcando pelos tenders.

A segunda determinação do briefing foi criar muitos lugares para familiares e convidados curtirem juntos ou descansarem em paz. A saída de Øino foi dar a cada deck e a cada espaço uma função distinta, além de criar móveis e estruturas como suporte, tais como bares, buffets, lounges, piscina e duas banheiras de hidromassagem. Com tanto espaço para trabalhar, ele incorporou, ainda, um cinema e uma discoteca, com uma estação para o DJ no topo do deck, uma sala interior/exterior para fitness, uma área abrigada para festas e recepções na popa de um dos decks e uma área de estar privada, ao ar livre, em frente à suíte dos proprietários. O Capitão Maxx Ainsworth acrescentou: “Fomos capazes de fazer caber ainda uma substancial garagem para tenders, um centro de mergulho completo e uma sauna à popa com acesso à plataforma de mergulho”.

Rodriguez, a designer de interiores, tem escritório em Fort Lauderdale, na Flórida. Ela trabalhou no refit do iate anterior dos proprietários e estava também desenhando com eles o projeto de uma residência na região. “Por causa dessa proximidade, pude mostrar os desenhos e materiais e saber quase imediatamente se estava no caminho certo, em vez de passar meses montando amostras que jamais fariam parte do projeto para serem apresentadas”, conta.

Superar os limites era também uma exigência para o interior do iate, tanto no escopo quanto no detalhe. Para conseguir uma área de convivência plana e aberta no deck principal, o espaçoso deck de popa abriu-se para um salão multifuncional de mais de 172 m², sem uma única viga. Rodriguez fez uma seleção cuidadosa dos objetos interiores, mobiliário e obras de arte, inclusive chegou a viajar para Veneza para garimpar peças de cristais Murano nos ateliers dos artistas. Como resultado, há uma impressionante coleção de instrumentos musicais em Murano no salão. “A cor dessas peças artísticas tornou-se a paleta para o salão inteiro e a música, o seu tema”, conta Rodriguez.

Dois painéis deslumbrantes na entrada do salão, do chão ao teto, definem bem o tom exuberante e alegre da fantasia chamada Solandge. Eles são de quartzo de ametista com luzes backlit em LED. A pedra foi cortada em tiras finas, coladas como um mosaico e depois prensadas entre vidros transparentes. Ao olhar até a porta, de um lado, vê-se um piano Bechstein e, do lado oposto, uma mesa veneziana. Ao final, há um grande bar com piso em ametista e ônix mel, que faz uma espécie de fronteira com o piso de madeira.

Em frente ao bar há uma confortável sala de estar e, em seguida, uma comprida mesa de jantar maciça, inteiramente sob lustres Schonbek com pingentes de ametista e cristais de quartzo rosa, ordenadamente dispostos para não assustar. Em frente à sala de jantar há uma sala de estar muito mais equipada, com uma lareira e uma tela de TV “escondida” atrás de um quadro de um músico. Estes são apenas alguns dos inúmeros locais multimídia ao longo do iate, que é inteirinho servido por wireless e preparado para karaokê. Aliás, os proprietários encarregaram seu engenheiro para descobrir e instalar no Solandge um equipamento high-end de karaokê, usado nos melhores clubes do gênero no mundo.

O iate é dividido no seu eixo por um lobby, dominado por uma escultura de 15 metros iluminada, que passou a ser conhecida como “a árvore da vida”. Foi um pedido do proprietário, que desejava algo que corresse por toda a altura do iate desde o deck inferior. Feita na Califórnia, a escultura contém 1.423 pontos de luz e está cercada por um magnífico corrimão de aço inoxidável e couro que ancora uma escada flutuante.

Entre os detalhes escolhidos pelos proprietários estavam os revestimentos de madeira. Eles selecionaram em torno de 25 e deixaram que Rodriguez determinasse seu uso. Assim, quanto mais você sobe no iate, mais claro fica o tom dos revestimentos de madeira. Por exemplo: a textura e a justaposição de tons claros e escuros no salão principal remete um pouco ao estilo Biedermeier, mas apenas como pano de fundo. O mesmo ocorre com as peças de mobiliário, com brocados e franjas douradas que fazem uma boa ponte entre os séculos. Mais à frente do lobby, os camarotes de hóspedes são em estilo mais moderno, cada um em uma cor diferente. Um deles pode ser convertido para um escritório, tal como acontece com a suíte VIP, que pode ser tanto um camarote com um lounge como dois camarotes separados. Cada metade tem bastante espaço, mas a suíte “VIP total”, com suas grandes janelas, closet e banheiro, é tão confortável quanto a suíte máster dos proprietários. Isso só até você ver a suíte máster no deck acima.

No deck do proprietário, os aposentos – do tamanho da boca e com 180o de visão para a proa – incluem um escritório particular, um closet e banheiro para ele, um closet e banheiro para ela, um pequeno lounge ao ar livre e uma jacuzzi. Aliás, todas as jacuzzis a bordo são grandes cubas de madeira sobre o piso revestidas em mosaico. A água que eventualmente transborda escoa por um inteligente rebaixo na teca. Isso mantém a jacuzzi e seu entorno sempre seco e sua estrutura alta garante a privacidade.

Voltando para o interior da suíte do proprietário, há um lounge bem casual na popa com uma lareira, decorado em tema náutico em cores semelhantes às do salão superior. O mobiliário em estilo italiano, feito sob medida, inclui uma pequena mesa e cadeiras, uma escrivaninha feminina com tampo em couro e diversas gavetas, além de um conjunto de painéis retroiluminados pintados à mão retratando temas do Jardim do Éden.

Já os convidados podem “entrar no Éden” e desfrutar de coisas como um spa com instalações de alto nível na popa do deck do posto de comando. Entre as suas amenidades estão uma sauna quente e outra a vapor, uma sala de massagens e um salão de beleza, conectando-se ao fitness center e à piscina externa. Uma parede de vidro em forma de bolha que muda de cor fornece a privacidade necessária para as sessões de massagem. Tudo isso cria um completo mini spa resort.

O espaço externo para a convivência geral é grande e multifuncional, conforme o desejo dos proprietários. Há uma espécie de lounge em estilo praia-chique, com assentos em forma de “U” sob uma tenda drapeada. Ao centro do deck, há um bar em formato de ferradura, com detalhes em mosaico dourado, enquanto mais a estibordo há uma romântica plataforma, do tamanho de uma cama king-size, decorada com uma estrela cenográfica acima. Com este espaço aberto, ligado no modo de “entretenimento completo”, o deck está preparado para receber tranquilamente cerca de 60 pessoas para uma festa de ano novo, por exemplo. Os convidados podem ainda se esbaldar na pista de dança que surge sob a piscina. “A ideia de uma pista de dança de acrílico foi fácil de imaginar”, admitiu Masters. “Mas depois tivemos que descobrir como fixá-la, armazená-la, e, obviamente, como instalar um corrimão para ninguém cair. Demos um jeito e criamos uma pista de dança flutuante única, que ainda pode ser iluminada nas festas”, contou.

“Grandes espaços abertos de convivência são a tendência atual para os decks externos, que refletem a preocupação com o bem estar dos convidados”, afirma Øino. “Organizar espaços para se sentar e conversar, comer, beber e aproveitar a vida tornou-se o fator mais importante. O mobiliário externo do Solandge é complexo e incorpora certos recursos e iluminação nas bordas para permitir que o entretenimento aconteça espontaneamente”, complementa o projetista.

Outra preocupação foi sobre como otimizar os serviços a bordo. O resultado não poderia ter ficado melhor, pois no Solandge eles são excepcionais. “Os proprietários se preocupam com o serviço, mas eles se preocupam ainda mais com o bem-estar de seus tripulantes e respeitam suas necessidades”, diz Masters. Só para se ter uma ideia, 11 membros da tripulação vieram com Ainsworth, o capitão do barco anterior, incluindo duas irmãs, um pai e um filho. Os acessos da tripulação por todo o barco são amplos e inteligentes. Ninguém precisa se espremer para passar pelo outro com uma carga da lavanderia ou de suprimentos. Os atendentes, por exemplo, tiveram liberdade para planejar a localização de todos os suprimentos e utensílios de trabalho em cada deck, assim, nenhum tempo é desperdiçado na correria até uma despensa central. O Solandge é o primeiro Lürssen com passagem da tripulação pelos dois níveis da sala de máquinas e isto claramente aumentou a eficiência e eliminou os congestionamentos nos horários de pico. Os engenheiros têm uma sala de trabalho dedicada a eles e separada da sala de controle, há uma outra sala de reuniões no centro de mergulho e um escritório para o chef e a governanta junto à área da tripulação, em frente à cozinha, desenhada pelo próprio chef, com recursos que permitem fazer de tudo, de chocolates e bolos artesanais a grandes quantidades de sorvete.

Na parte mecânica, o Solandge é semelhante ao seu irmão mais velho, o Quattroelle. Porém, o padrão Lürssen é tão perfeccionista que Ludbrook especificou um dessanilizador adicional com tanque próprio de armazenamento. “São 15 toneladas de água apenas para lavar o barco”, revela ele.

Percebe-se também o cuidado no planejamento do layout interno. As copas são grandes e inteligentemente integradas à circulação interior e exterior da tripulação por bombordo. Um elevador exclusivo para a tripulação otimiza o tráfego de pessoas e itens. É possível trazer vinho da adega de 500 garrafas para o deck em poucos minutos. Os hóspedes têm seu próprio elevador, para nove passageiros. Ludbrook ressaltou que os três geradores permitem que os engenheiros possam combiná-los para gerar energia com mais eficiência, enquanto um transformador dedicado de 115V na proa cria ondas senoidais puras para abastecer carregadores de iPads, telefones e demais equipamentos eletrônicos trazidos a bordo pelos inúmeros convidados e clientes de charter e para suprir a sempre crescente coleção de aparelhos mirabolantes usados pelo chef.

Refletindo sobre o projeto como um todo, desde o detalhamento à sua conclusão, Rodriguez recorda que os proprietários queriam que cada centímetro deste navio fosse especial e que tivessem um significado. “É difícil projetar 85 metros de ‘especial’, mas nós realizamos isto para eles de forma muito controlada. Acho que o sonho deles virou realidade”. E de uma alegria imensa.

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