Isolado a bordo, Vilfredo Schurmann retorna ao Brasil após quatro meses nas Ilhas Falklands

Isolamento a bordo - Vilfredo Schurmann em West Falkland1

Diante da abertura de uma janela meteorológica muito boa para navegação, a Família Schurmann decidiu retornar ao Brasil, após quatro meses nas Ilhas Falklands/Malvinas e Georgia do Sul, onde permaneceram por mais tempo que o planejado em consequência da pandemia. Na região, as temperaturas entre 2º e 6º com sensação térmica de até -10º; os ventos e as tempestades fortes que mantinham a tripulação em alerta constante para manter a ancoragem segura, e a falta de comunicação frequente dificultando o contato de Erika com o pai, médico atuante na Itália, levaram à decisão de retorno. A navegação de volta para Brasil foi de nove dias e meio ininterrupta até Vilfredo e Wilhelm Schurmann e Erika Cembe-Ternex ancorarem o veleiro Kat na Marina Itajaí, em Santa Catarina.

Isolamento a bordo - veleiro Kat nas Ilhas Falklands Malvinas 1

“Em janeiro, a navegação de ida para Falklands foi terrível. Seguramente a mais dura já enfrentada em 36 anos de aventuras. Tempestades com ventos de 130 km/h e ondas enormes com mais de 6 metros causaram avarias no veleiro Kat. Nada comprometedor, contornável. Por isso, para a volta não podíamos deixar passar uma abertura de janela meteorológica como essa”, conta Vilfredo. E acrescenta: “o planejamento original previa voltarmos até, no máximo, março. Fomos pegos de surpresa pela pandemia e tivemos que ficar por lá e nos adaptar rapidamente para essa situação”. As incertezas em torno de eventual – e necessária – ampliação da adoção de lockdown ou de um cenário semelhante ao da Europa que inicia cautelosa saída da quarentena também foram consideradas antes de içarem as velas e regressarem.

Isolamento a bordo - Wilhelm Erika e Vilfredo em West Falkland

Com a pandemia e as orientações da Organização Mundial da Saúde, Vilfredo (que faz parte do grupo de risco), o filho Wilhelm e a nora Erika optaram prontamente em ampliar a estadia em Falklands/Malvinas. “Ficar isolado a bordo fez do mar o local mais seguro naquele momento. Foram raríssimos o contato – mesmo que apenas visual e a distância – com outras pessoas. Lá, nossos companheiros eram pinguins, focas, albatrozes, golfinhos e outros animais”, lembra Vilfredo. Com uma população de aproximadamente 3 mil pessoas, a região registrou apenas 13 casos de Covid-19, todos curados até o retorno da Família Schurmann. “Foram pessoas que tinham chegado da Europa, onde foram infectadas. Permaneceram em isolamento e tratamento, ao mesmo tempo que medidas de segurança foram adotadas. Em Porto Stanley, a maior cidade, se mantém um distanciamento de 2 metros – 2,5 metros entre as pessoas e todas com máscara, por exemplo. No supermercado, limite de 15 pessoas, no máximo. Todos seguiram as regras e não houve falecimento na ilha”, conta Vilfredo.

Isolamentao a bordo - Wilhelm e Vilfredo Schurmann em West Falkland

O Capitão da Família Schurmann reconhece o privilégio de estar em um local tão favorável para esse momento. “Podíamos desembarcar na região das fazendas. Todas distantes uma das outras, com longos pastos e pessoas fechadas em suas casas. No total, caminhamos cerca de 200 quilômetros de campos desertos”. Das águas vinha uma “fonte extra” de alimentos: a região tem muitos mexilhões, trutas e algas comestíveis – além das frutas silvestres em terra. Vale registrar que, no mar e longe da ilha, mais de 100 navios pesqueiros reuniam uma população maior que a de terra. “A pesca sustentável da lula, respeitando a natureza e os ciclos de reprodução, atraem um número muito grande de pescadores, que permaneceram o tempo todo em seus respectivos navios”.

Isolamento a bordo - Vilfredo Schurmann em West Falkland2

Depois de 6 mil milhas (cerca de 12 mil quilômetros) navegadas neste primeiro quadrimestre do ano, Vilfredo, Wilhelm e Erika estão de volta ao Brasil como se regressassem de um “mundo paralelo”. Com a comunicação muito restrita, sem conexão de internet, os Schurmann sabiam da gravidade da situação, mas só agora estão diante de um turbilhão de informações e um cenário mais claro da real – e triste – situação no país e no mundo. “É muito bom estar de volta, em poder me comunicar por vídeo com meus filhos, netos, parentes e amigos.

Mas o isolamento permanece e é necessário. Agora, estamos todos no Brasil, seguindo as medidas de distanciamento social, com a certeza de que essa tempestade vai passar. Ela é mais dura e cruel com muitos, infelizmente. Mas vai passar. Até lá, que a gente faz a nossa parte, dentro do que é possível e nos compete”, diz Vilfredo ainda focado nos próximos projetos. O Capitão da Família Schurmann segue escrevendo o livro inspirado na Expedição U-513 – Em Busca do Lobo Solitário e no planejamento da expedição Voz dos Oceanos, que tem o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como parceiro global.

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