Um homem do mar: Semana de Vela 2018, memórias de um dia memorável.

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Foto: Aline Bassi/Balaio de Ideias

Não me lembro de me preparar para uma regata, se você tem que fazer um percurso você deve estar preparado para o que der e vier.

No horário previsto para a largada o vento muito fraco, que para mim é o verdadeiro temor predominava.

Estávamos com recom que é uma bandeira de retardamento de largada e enquanto aguardávamos a liberação da nossa regata tínhamos no visual uma formação de nuvens pesadas que indicava uma possível entrada de ventos fortes dentro do canal.

Por precaução rizamos a mestra e definimos o quanto usaríamos da genoa e assim nos preparamos para o que viesse.

Estávamos a bordo do veleiro Sirius, um cruzeiro de 49 pés grande e pesado e que colocaríamos a prova em rajadas que chegaram a mais de 30 knots, condições que alguns velejadores jamais velejaram e que alguns jamais velejarão.

Atenção ao vhf e relógios a postos para a contagem regressiva deixando todos com os nervos à flor da pele, em 3,2,1 o sinal sonoro da a largada, estamos em regata!

Todos em suas posições, é hora de velejar e regular o barco para as condições que nos aguardavam. À medida que cruzávamos o canal de São Sebastião o vento aumentava e a visibilidade ficava prejudicada, dificultando as marcações para os bordos e as visualizações de marcação dos barcos mais próximos.

Bordos longos mantinham nosso barco em velocidade sempre regulando a área velica da genoa para que o ângulo aproveitasse o máximo possível do vento e, em pouco menos de 2 horas estávamos nas proximidades da laje dos moleques. A medida que deixávamos o canal as ondulações se espaçavam e conseguíamos navegar em ângulo evitando corta-las e assim mantendo uma boa velocidade.

Nesse momento o veleiro Newport, um Delta 36 era nossa referência nas marcações por popa e em nossa proa tínhamos o veleiro Madrugada, um Frers 42 o que nos permitia alguns cálculos para as manobras nas proximidades da Ilha do Toque-Toque.

Apesar desses barcos mais próximos de nós optarem por bordos mais próximos ao continente, decidimos manter nosso barco num bordo mais aberto e abrindo 3/4 de nossa genoa, mantendo assim nossa média de velocidade e nos preparando para deixar a Ilha de Toque-Toque por boreste.

Com o assimétrico preparado, ajustamos o rumo dessa vez margeando o continente até às proximidades do píer de carga, em seguida cruzando o canal rumo a bóia de chegada, atingindo picos de 12 a 13 knots.

Às 17:17 com aproximadamente 4:25 minutos de regata fomos saudados como campeões da categoria Bico de Proa A.

Um dia que ficará para a história para todos os velejadores da 45* edição da Semana de Vela.

Muitas desistências, muitas embarcações quebradas, muitas velas rasgadas e com absoluta certeza, muitas histórias que serão relembradas por muitos e muitos anos, como uma regata deve ser.

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Foto: Fred Hoffmann

Texto por: Ricardo Machion

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