Baterias e Módulos: um sistema nada complexo

Baterias e Módulos um sistema nada complexo-boatshopping

Há algum tempo li uma matéria sobre baterias assinada pelo Alexandre Akashi editor da revista Oficina Brasil. A matéria trata do funcionamento e dos cuidados que devemos ter com o sistema computadorizado que gerencia os modernos motores eletrônicos. Com permissão do Alexandre, reproduzo aqui boa parte dessa matéria com algumas adaptações que tomei a liberdade de fazer e dizem respeito aos motores com os quais lidamos no nosso dia-a-dia: os motores marítimos.

Como escreveu o autor da matéria: “pode parecer extremamente primário” o que vamos explicar, porém muitos reparadores e proprietários de veículos equipados com motores mais avançados, sejam eles de automóveis ou de embarcações, passam por algumas dificuldades ao lidarem com o sistema eletrônico por não atentarem a pequenos detalhes.

Baterias e Módulos um sistema nada complexo-boatshopping

Antes de mais nada, é preciso entender que no funcionamento dos motores mais modernos, as baterias exercem um novo papel e que a qualidade e o bom estado dessas baterias é condição fundamental para isso.

Com o advento da injeção eletrônica, no início da década de 1990, praticamente todos os motores concebidos pelos principais fabricantes deixaram de ser controlados mecanicamente para dar lugar aos sistemas computadorizados de gerenciamento.

Assim como nos computadores que temos em casa, os módulos eletrônicos (conhecidos por ECUs) também funcionam à base de eletricidade e são alimentados pela tensão das baterias.

A quantidade de ECUs que atende um veículo aumentou na mesma proporção do crescente desenvolvimento tecnológico. Em alguns modelos atuais de automóveis eles chegam a ser mais de 70 controladores, para gerenciar não somente a injeção eletrônica, mas também sistemas como os de estabilidade (ESP), freios ABS, acelerador eletrônico, airbags, ar-condicionado, vidros e travas elétricas, chaves, bancos, limpadores de pára-brisas, equipamentos de áudio e vídeo e mais, muito mais.

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Nos barcos, além das funções similares às dos automóveis, os módulos ECU têm como atribuição fundamental gerenciar o funcionamento do motor dentro das especificações determinadas pela fábrica. Nos motores Volvo Penta, por exemplo, isso é feito por meio de softwares previamente programados pela fábrica. Nesses motores os módulos ECU são também programados para transformar sinais analógicos para sinais “Can” e vice versa, para controlar o engate de marchas e para controlar a aceleração dos motores.

No caso dos motores com propulsão IPS, também da Volvo Penta, os ECUs controlam o sistema de direção; todo o funcionamento dos instrumentos padrão (conta-giros; pressão de óleo, temperatura da água; etc.); monitora o consumo de combustível em tempo real e a quantidade de milhas que podem ser percorridas com o combustível do tanque; e ainda fornece dados do GPS para que o piloto automático siga a rota traçada pela carta náutica.

O Alexandre ensina que para interligar todos estes módulos, foram criadas as redes de comunicação automotivas, que basicamente fazem com que os sensores troquem informações entre si, simultaneamente, durante o tempo inteiro, com o objetivo de acionar ou não um dispositivo específico caso o resultado das leituras seja diferente do estipulado na programação definida como normal.

Logo, a partir do momento que apertamos o botão do controle remoto e abrimos a porta do carro, o sistema de alimentação de energia está acionado. O veículo está consumindo energia. Quando inserimos a chave no contato e a ligamos e as luzes acendem no painel, realiza-se automaticamente uma verificação de todos os sistemas, para saber se estão todos funcionando. Nos barcos a coisa funciona do mesmo jeito.

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É como uma chamada de início de aula. O professor pega o diário de turma e começa a perguntar: número um, número dois… ou Alberto, Anderson, assim por diante. Na medida em que os alunos vão se identificando, a presença é anotada.

Nos modernos motores que equipam nossos barcos, no entanto, esta chamada é feita constantemente e não uma única vez ao energizar o sistema, ou seja, enquanto o motor estiver funcionando essa checagem é feita de tempos em tempos. Mais adiante você vai ler que, mesmo com o motor desligado na chave, a checagem continua.

Assim, com a bateria em perfeito estado de funcionamento, os módulos vão respondendo à medida que são consultados e, mesmo depois que se desliga a chave do contato, as ECUs ainda estão funcionando, realizando um check-up nos sistemas, antes de entrar em estado de standby (espera).

Se neste momento acaba a energia e a alimentação é cortada (a bateria é desconectada ou, como é comum nas embarcações, a chave geral é desligada), o módulo que estava trabalhando freneticamente, questionando os sistemas para saber se está tudo bem, para depois poder ‘repousar’, desliga no meio da tarefa e acontece algo muito similar a quando você está digitando um texto no computador e a energia acaba. Você perde tudo o que escreveu e quando religa o computador ele entra em modo de segurança ou, como em alguns casos, ele nem religa.

Isso acontece porque se interrompeu uma tarefa repentinamente. A ECU precisa de um tempo para se recompor e não perder as referências pré-programadas. Imagine que você está andando na rua, preocupado com suas atividades diárias e de repente alguém chega por trás e te dá uma pancada na cabeça. Você desmaia e perde os sentidos e pode até perder a memória. Com a ECU ocorre algo muito similar.

Baterias e Módulos um sistema nada complexo-boatshopping

Toda esta história é para dar um recado muito simples: em se tratando dos modernos motores eletrônicos, nunca, jamais, em hipótese alguma, desligue a bateria e/ou desligue a chave geral do barco, sem critério nenhum. Desligar a bateria ou a chave geral fora do tempo que é necessário significa dar uma pancada na cabeça da ECU. Quando ela voltar, não saberá onde está, o que estava fazendo e vai se embaralhar toda. Os módulos podem não funcionar direito, a injeção pode perder parâmetros e o motor funcionar quadrado ou até mesmo não funcionar.

O que fazer, então? Quais são os critérios?

Depende. Cada motor tem um sistema diferente, mas uma receita básica é a seguinte: antes de desconectar os pólos da bateria ou desligar a chave geral do barco deixe o motor imóvel e intocado por pelo menos duas horas. Neste período, todos os sistemas serão checados e liberados para repouso.

Não esqueça: desligar a chave geral no barco é o mesmo que desconectar os pólos das baterias, portanto o prazo deve ser também de duas horas para desligar a chave geral, após o desligamento do motor pela chave de contato. Bons mares!

Por: Hélio Luppino

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