Pergunte ao Capitão: é um trovão?

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Há muitos relatos de pessoas atingidas por raios no campo ou na praia, mas poucos envolvendo embarcações de esporte recreio. Mas o que fazer em caso de raios? No verão ocorrem muitas tempestades no fim do dia e invariavelmente muitos raios, relâmpagos e trovões as precedem. Por isso é bom que se entenda melhor como se dá este fenômeno e como se precaver de eventuais problemas a bordo do seu barco.

No verão, a evaporação das nossas águas em terra aumenta, gerando uma maior concentração de umidade no ar e, consequentemente nuvens. Essa massa fica carregada eletricamente, principalmente os granizos que, ao se tocarem, alteram sua carga elétrica, ficando na parte mais baixa da nuvem. Ou seja, cargas negativas ficam na parte mais baixa e as positivas na parte mais alta.

Esta diferença propicia que surja uma descarga elétrica de grande intensidade que ioniza ao longo de seu percurso criando um plasma sobreaquecido, a 30 mil graus, que conhecemos como raio. Este emite uma radiação eletromagnética, parte da qual é vista sob a forma de luz, mais conhecida como relâmpago. O trovão é o som gerado pela onda de choque pelo aquecimento e subsequente expansão supersônica do ar que foi atravessando por uma descarga elétrica, que com já vimos se tratar do raio. Resumidamente, o raio é a descarga elétrica, o relâmpago é o efeito visual e o trovão é o som de todo este fenômeno.

Durante a navegação é preciso ficar atento aos raios, que são o mais perigosos. Com as nuvens carregadas eletricamente, é muito comum uma descida de uma faísca ao mar. Quando isto ocorre, as partes mais elevadas emitem uma descarga em direção oposta, produzindo, como dissemos, radiação com luminosidade (relâmpago) e deslocamento de ar (trovão).

Segundo a NASA, caem na Terra cerca de mil raios a cada segundo proveniente de duas mil tempestades. Para nossa “sorte”, o Brasil é campeão em tempestades e raios. No nosso litoral, do Paraná ao sul da Bahia, existe probabilidade de até 40 tempestades por dia, apesar deste número diminuir quanto mais nos distanciamos da costa.

Se você for pego por uma tempestade no mar, não se apavore. Você não será o primeiro nem o último. Eu, por exemplo, certa vez estava navegando perto de Iporanga, no litoral paulista, quando começou uma tempestade em terra. De repente houve uma descarga de um raio bem próximo à praia e meu sobrinho estava com uma das mãos no estaimento do veleiro e a outra na água lavando um peixe. Ele sofreu um choque leve, pois, apesar da distância, a descarga encontrou nele o aterramento. Outra vez vinha de Florianópolis quando no través de Itanhaém fui pego por uma bela tempestade. A coisa foi feia: parecia guerra de tanto trovões.

Outra foi perto do Uruguai, quando não caiu uma gota de chuva e ouvi poucos trovões, mas o céu parecia festa de fim de ano de tantas cores durante as descargas elétricas. Esta é a famosa “chuva de estáticas”. Casos mais graves também já ocorreram, infelizmente, como a do navegador brasileiro que pôs seu barco para fora da água no Caribe e ao subir no veleiro utilizando uma escada de alumínio durante uma tempestade sofreu uma descarga morrendo na hora. Mas isso é uma tremenda fatalidade.

Há formas de se precaver contra prováveis acidentes envolvendo raios. Vamos lá?

1 – Aterre toda a parte elétrica, guarda mancebo e mastros do barco. Procure colocar o aterramento indo para o eixo do barco ou nas quilhas (bolinas fixas) no caso de veleiros. Uma eventual descarga passará “por fora da embarcação”, não afetando os tripulantes, desde que não estejam em contato com a água e longe de partes metálicas.

2 – Caso seu barco esteja fora da água, deixe a corrente e a âncora tocando o solo. Isto irá aterrar possíveis descargas. Embarcações em carretas também podem ser aterradas com cabos elétricos. Solicite o aterramento caso ele for ficar em alguma marina.

3 – Fique atento à previsão do tempo, mesmo nos dias ensolarados de verão. As mudanças climáticas abruptas acontecem principalmente a tarde, quando ocorrem a maioria das trovoadas. Programe seu passeio para voltar antes do período crítico.

4 – Navegação próximo a ilhas, serras e fiordes está mais sujeita a raios. Evite estes locais quando o céu der sinais de tempestade.

5 – Para saber se uma tempestade pode alcança-lo é simples. Após ver um relâmpago, conte os segundos até ouvir o som do trovão. Cada 5 segundos do relâmpago até a chegada do som equivale a dizer que você está a uma milha da trovoada. Se este tempo diminuir, significa que ela se aproxima. Se aumentar, ela está se distanciando.

6 – Observe também a forma dos relâmpagos. Quando eles se apresentam na vertical é que a tempestade ainda está se desenvolvendo, quando eles estão paralelos ao mar significa que a trovada já está passando.

7 – Peça a todos que estão na água para subirem a bordo antes da tempestade chegar. Cuidado com escadas de alumio. Para subir recomende que se toque com a mão direita abaixo da linha do coração, para evitar problemas de estática.

8 – Desligue os equipamentos eletrônicos da embarcação. No caso do rádio, o ideal é desligar os cabos das antenas.

9 – Se a tempestade te alcançar nada de pânico. Instrua a todos para ficarem longe de metais e equipamentos eletrônicos, inclusive celulares e computadores. Se a coisa ficar feia, recomende que as pessoas também fiquem abaixadas. Espere com calma que ela passa.

10 – Caso você esteja em uma moto aquática durante uma tempestade, saia imediatamente do mar e se afaste da água. Se a coisa ficar feia, fique agachado de forma a não ser o ponto mais alto da praia.

11 – Consulte sempre a meteorologia antes de ir ao mar e fique de olho nas nuvens na parte da tarde e nas noites quentes.

 

Por Capitão Marco Antônio Ferrari Carneiro

 

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